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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Lua

O Poeta e a Lua - Vinícius de Moraes

Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pêlos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A
vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num
delírio de volúpia.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante
a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.

Lua Bela, a me fazer sonhar....

Soneto à lua – Vinícius de Moraes

Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro
, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

6 comentários:

  1. Sil, querida...

    Adoro Vinicius (paixão desde os meus 11 anos de idade...) e a lua... ah... ela exerce um certo poder sobre a gente, ne? Poeta e lua, tudo a ver... E eu nem preciso dizer o quanto aprecio poesia sensual, especialmente se a sensualidade é sutil... hehehe

    Falando em lua e em Vinicius, eu AMOOOO essa aqui também, olha só:

    "São demais os perigos dessa vida
    Para quem tem paixão, principalmente
    Quando uma lua surge de repente
    E se deixa no céu, como esquecida

    E se ao luar, que atua desvairado
    Vem unir-se uma música qualquer
    Aí então é preciso ter cuidado
    Porque deve andar perto uma mulher

    Uma mulher que é feita de música
    Luar e sentimento, e que a vida
    Não quer, de tão perfeita

    Uma mulher que é como a própria lua:
    Tão linda que só espalha sofrimento,
    Tão cheia de pudor que vive nua."
    (Soneto do Orfeu - Vinicius de Moraes)

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  2. Ai que delicia ler Vinicius agora de tarde...
    LIndo!
    bjosssss

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  3. Encontrei outro lugar de encontrar as poetas que cantam versos encantados. Suzanna e Tati e que, por acaso, também se sentam na ampliada praça das Escrevinhadoras. A lua me insuna, e assim é com todos que vagueiam sua luz sutil. Amantes e poetas "se deixam em prece ante a beleza da lua, diz Vinicius. Belo esse lugar! bjs

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  4. Querida Sil,

    Vinícius é, simplesmente, encantador... e recebê-lo de presente nessa segunda-feira, diretamente de suas mãos, é uma grande dádiva!

    Obrigada por nos brindar com tão lindos versos inspiradores no dia de hoje!!

    Beijos, com carinho!!

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  5. Nada melhor do que se deliciar com esses belos poemas.

    Bju

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  6. Perfeito, Silzita! vc como sempre maravilhosa! Obrigado por se juntar conosco, novamente e nos brindar c\ seu bom gosto. Xêro!

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