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domingo, 21 de novembro de 2010

Telha de Vidro...



Telha de Vidro
(Rachel de Queiroz)


Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...

A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!

— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...

Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...


Ponha uma telha de vidro em sua vida!



Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna — "dona Miliquinha" — era prima José de Alencar, autor  de "O Guarani"), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito nessa época. 

Em 1930, quando tinha apenas 19 anos, lançou o livro O Quinze,  onde a seca passou a ser não apenas o ambiente, mas o próprio personagem da história narrada. Rachel de Queiroz foi a primeira escritora a integrar a Academia Brasileira de Letras, em 1977. 

Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04 de novembro de 2003, na cidade do Rio de Janeiro.

No ano de 2010 ocorreram vários eventos em comemoração ao centenário do nascimento da escritora, inclusive com lançamentos de obras de Rachel - entre eles Mandacaru, livro com 10 poemas, escritos quando ainda era muito menina. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um pouco sobre sinônimos


Hoje venho falar de um tema que passou a me intrigar a partir de uma experiência que vivenciei com a nossa Língua Portuguesa. Costumo dar aulas particulares de Gramática para pessoas de diversas idades e, em uma delas, precisei explicar o significado da palavra “sinônimo”.

A partir da definição da Wikipédia, descobri que “sinônimo é o nome que se dá à palavra que tenha significado idêntico ou muito semelhante à outra.”

Procurei, então, exemplos que representassem didaticamente o que estava tentando explicar. A curiosidade foi que não consegui obter palavras sinônimas que me viessem rapidamente à cabeça. Na hora de explicar os antônimos, tive muito mais facilidade, o que fez surgir um verdadeiro ponto de interrogação dentro de mim: por que é mais fácil encontrar palavras contrárias do que buscar as semelhantes?

Refletindo um pouco a respeito, entendi que no vocabulário (e na vida), há palavras que simplesmente não possuem um sinônimo, pois foram criadas para serem únicas. Por mais que a gente tente encontrar algo similar, nunca será igual.

Assim como as palavras, alguns momentos de nosso percurso também se configuram dessa forma. Há aquele instante incomparável, que você pode tentar reproduzir de mil e uma formas, mas nunca irá te provocar a mesma sensação ou o mesmo sabor. Há pessoas que você conheceu e, por um motivo, precisaram partir, e você pode procurá-las nos mais diversos lugares, mas nunca vai encontrar uma cópia fiel, com as mesmas manias, defeitos e qualidades da primeira.

Talvez seja essa, mesmo, a graça da vida. Porque afinal, nada melhor do que descobrir algo novo a cada nova curva do caminho... ainda mais se for algo completamente diferente do que se presenciou no momento anterior.